Elaboração: Elisabete Pimentel
LEITURA DELEITE:
Chapeuzinho Vermelho e o lobo* CELSO ANTUNES
A mesma história, agora entretanto contada a partir da visão do lobo.
Todas as crianças pequenas, já ouviram a história da chapeuzinho vermelho, bem, sempre contada na visão de chapeuzinho, e se o lobo tivesse direito ao seu relato? Como seria? Comentem. Ultimamente tenho lido alguns livros e achei essa espetacular versão em um livro de ''Celso Antunes'' que ''contextualiza nosso cotidiano escolar'', o nome Casos, Fábulas, Anedotas ou Inteligências, Capacidades, Competências. da Editora Vozes. Confira:
- Pois é! Estava eu em minha casa, pois como sabem a mata é a única casa que tenho, quando vi uma menina branquela e com horroroso chapeuzinho vermelho caminhando com displicência e levando uma sacola debaixo do braco. Pensei: - Puxa, bem que será capaz de atirar copos e garrafas plásticas sem cuidado na minha mata e é meu dever adverti-la para que tenha cuidado e respeito ao meio ambiente. E, assim pensando, dirigi-me a garota. Esta, entretanto, ao me ver gritou horrorizada:
- Meu Deus! Meu Deus! Um terrível lobo. E, em desespero, nem deu tempo para explicação e saiu correndo em disparada.
Fiquei sinceramente ofendido, magoado mesmo, mas refleti: ''É ainda uma criança, nada sabe sobre a beleza animal e de nada adiantará meus ecológicos conselhos. Deduzindo que por certo iria até a casa da velhota lá perto do riacho, cortei caminho e me antecipei, tentando argumentar com sua avó adulta. Foi inútil. Esta, ao me ver, gritou com igual horror e já ia avançando sobre a espingarda, quando em último recurso, tive que devorá-la. Aí pensei: ''Se a garota chega e me encontra em meus trajes habituais, por certo vai continuar a me ofender e não me dará ouvidos''. Foi por esse motivo que, depressa, vesti as roupas da velha e cobri-me, deitado em sua cama.
- Pois não é que a menina, assim que me viu e pensou ser a avó, continuou sua sessão de ofensas e desmoralizações. Foi logo dizendo:
- Meu Deus, vovó, como seus olhos estão horrorosos...
Essa dura crítica mexeu com minha auto-estima e ofendeu-me até a última gota de sangue. Sei que não tenho os olhos de Brad Pitt, mais ainda assim lutei contra a revolta e com doçura, argumentei:
- São para melhor enxergá-la, meu amor...
Foi inútil essa demonstração de afeto. A garotinha continuou a escandalizar meus ouvidos, minha respiração, meus sentimentos, até o limite máximo da tolerância, quando esmagado por tantas ofensas devorei-a também.
- O final da história vocês conhecem... veio o caçador, abriu-me a barriga, salvando chapeuzinho e a avó e aqui me largando ensanguentado e a morte. Tudo em nome da ecologia! Não é um absurdo?
•Introdução- as dificuldades ortográficas
•Apropriação do sistema de escrita alfabética (SEA)
•Vídeo letra e vida : Arthur Gomes de Morais Sistematização – regularidades e irregularidades ortográficas e algumas atividades
•Apresentação de princípios e propostas para o ensino de ortografia
Ortografia: o por quê das dificuldades?
Muitas vezes, uma mesma letra pode representar mais de um som:
LETRA
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SOM
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EXEMPLO
|
S
|
S
|
EXPERIÊNCIA
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X
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Z
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EXAME
|
X
|
CH
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XAROPE,ENXADA
|
X
|
KS
|
TÓRAX, TÁXI
|
Ou um som pode ser representado por mais de uma letra:
SOM
|
LETRA
|
EXEMPLOS
|
X
|
EXPERIÊNCIA, PRÓXIMO
|
|
S
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SAPATO, CASCO
|
|
SS
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POSSÍVEL, FOSSA
|
|
S
|
C
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CEBOLA, CIPÓ
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Ç
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POÇA, POÇO, AÇUCAR
|
|
XC
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EXCELENTE, EXCETO
|
|
SC
|
NASCIMENTO
|
|
SÇ
|
(QUE ELE) NASÇA
|
Consolidação do SEA
“Ao término do primeiro ano do ensino fundamental de nove anos, espera-se que todos alunos já tenham atingido uma hipótese alfabética de escrita, tendo se apropriado da quase totalidade de propriedades e convenções agora apresentadas.
No segundo ano, as práticas de ensino do SEA devem estar voltadas para a consolidação do conhecimento das diferentes relações som-grafia de nossa língua, de modo a permitir que a criança possa ler e escrever palavras, frases e alguns textos de menor extensão
Quando a criança atinge a hipótese alfabética, isto é, quando passa a escrever com base em uma correspondência entre fonemas e grafemas, ela ainda não está alfabetizada em sentido estrito, pois, muitas vezes, ao ingressarem nesse nível, os aprendizes não conseguem ler e escrever com autonomia, porque podem ainda não dominar uma série de correspondências som-grafia de nossa língua.
As sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes e vogais (CV, CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC, CCVCC...), mas a estrutura predominante no português é
a sílaba CV (consoante- -vogal), e todas as sílabas do português contêm, ao menos, uma vogal.
Percurso da alfabetização
Estar alfabético: conhecer os principais princípios do SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA.
Consolidar o domínio no uso das letras e dígrafos em diferentes padrões silábicos, de modo a ler e escrever palavras e textos.
e
Iniciar o uso das normas, ampliando progressivamente o domínio da escrita ortográfica.
Ou seja:
Compreender que nossa escrita não é fonética, pois não é uma transcrição exata da fala. A nossa escrita é ortográfica.
Na relação entre som e grafia, temos:
1. Correspondências regulares entre letra e som: com regras para o uso das letras
1.1.Correspondência regular direta ou regularidade direta:
Ocorre quando só existe um grafema (letra) para notar determinado som (fonema). São os casos de B, D, F, P, T e V
MAS ATENÇÃO!!
Algumas crianças fazem trocas entre elas, porque:
1 – há sons muito próximos.EX: BATO,PATO
2 - nomes das letras BE, DE, PE, TE fazem com que algumas crianças não registrem a vogal na grafia de palavras
Regularidades contextuais na relação som-letra
A regularidade contextual ocorre quando a letra pode ser definida pela posição ou pelo contexto (isto é, pelas letras que estão próximas da letra em questão).
Nessas situações, é possível deduzir regras para o uso das letras.
C e QU
Cavalo, quermesse, quiabo, copo, cuia
Regra: para escrever o som [k], usamos C antes de A, O, e U. Usamos QU, antes de E e I.
Casos mais comuns de regularidades contextuais, em que se pode deduzir algumas regras para escrever grafias corretas:
Letras
exemplos
R e RR (com som de r forte)
Rato, terra, genro, branco
G ou GU
Gato, guerra, guidão, gordo, guri
C e QU
Casa, querido, quiabo, cobertor, cuia
J junto com A,O e U ( e nunca com G) *
Janela, jogo, jumento
Z (palavras que começam com som [z]
Zangado, zebra, zinco
S (palavras que começam com som [s] com A, O e U
Sapato, sombra, sucesso
O e U
Bambu, bambo
E e I
Perdi, perde
M, N , ã, NH (que representam sons nasalizados)
Campo, canto, manhã, romã, mandioca
USO DO SS/S
Lista de palavras
sapato casaco passado lagos risada passeio passear saco
Regularidade morfológico-gramaticais
De acordo com aspectos morfológicos- gramaticais, pode-se deduzir a grafia das palavras. Geralmente isso se aplica a determinados: - sufixos de nomes e adjetivos - terminações de verbos e - “famílias” gramaticais das palavras.
MORFOLOGIA: estuda as palavras e os morfemas, partes que compõem as palavras e que contribuem para a formação de novas palavras
RICO
RICA
RICOS
RIQUEZA
ENRIQUECER
ENRIQUECERAM
ENRIQUECIMENTO
EN + RIQU + E + CI + MENTO
Morfemas
Exemplos de regularidade morfológica-gramatical
Sufixo -EZA para substantivos derivados de adjetivos
Beleza, pobreza, riqueza, certeza
Sufixo -OSO para adjetivos
Famoso, carinhoso, gostoso,
Sufixo -ICE para alguns substantivos
Meninice, chatice,velhice,
Terminação -OU para verbos 3ª p singular
Andou, pestanejou, criou
Terminação -RAM para verbos 3ª p plural passado (pretérito perfeito)
Andaram, criaram
Terminação –ÃO para verbos na 3ª pessoal plural no futuro
Andarão, criarão
Terminação –SSE para verbo no subjuntivo (hipótese, possibilidade)
Andasse, criasse
Família de palavras: palavras com o mesmo radical tendem a ser escritas com a mesma grafia
Pensar, pensamento, pensativo
Mar, maré, maremoto, marítimo, marinheiro, maresia, marzão
Exemplos de atividades
Construir famílias de palavras.
Ex.:TERRA: enterrar, terreiro, terreno, terráqueo, subterrâneo, conterrâneo
MAR
AR
Escrever grupo de profissões:
Ex.: pedreiro, engenheiro, padeiro, faxineiro, cozinheiro
VERBOS COM am/ão
Ontem, meus pais foram à cidade. Eles compraram algumas coisas, mas não levaram tudo o queriam. Eles viajarão amanhã para a casa da minha avó e levarão os presentes.
2- Agrupe as palavras grifadas em dois grupos: PASSADO E FUTURO
Irregularidades ortográficas
Há relações letra-som em que não é possível se basear em alguma regra ou princípio. A grafia das letras precisa ser memorizada ou é preciso consultar um dicionário ou alguém para resolver a dúvida ortográfica. Ex.: casa ou caza? Jeito ou geito? Beringela ou berinjela? Papel ou papeu
ALGUMAS ATIVIDADES
Fazer listas de correspondências oral - escrita
FALO ASSIM ESCREVO ASSIM
brincano brincando
pegano pegando
LINGUAGEM FALADA LINGUAGEM ESCRITA
pexe peixe
caxa caixa
Princípios gerais para o ensino de ortografia
O trabalho persistente do professor no ensino das convenções da escrita se faz necessário. No entanto, isto não significa trabalhar exclusivamente com a ortografia. Muitas outras competências estão em jogo no trabalho com a linguagem:
•Leitura com compreensão (talvez isso seja uma redundância...),
•produção de textos significativos, reflexão e uso de diferentes gêneros,
•leitura e produção de textos em diferentes situações, formais e informais, com diferentes propósitos. Por isso, o ensino da ortografia é apenas um das aprendizagens da linguagem escrita
Alguns princípios devem ser observados para este trabalho:
•Antes de mais nada um texto é escrito para ser lido, interpretado. É uma forma de comunicação, de troca de idéias, de expressão. Não é apenas um lugar para guardar palavras escritas de forma bonita. Portanto, não transforme a leitura de um texto do aluno em apenas um “caça-erros”
•Sempre que possível fazer com que outras pessoas (pais, colegas etc) também leiam o texto do aluno, dando um destino social aos textos.
•Estimular a escrita, releitura, revisão e auto-correção do texto. Incentivar o aluno a fazer isso de modo positivo e não como castigo.
Revisão do texto do aluno e pelo aluno
É comum aparecer mais de um tipo problema no texto. Estabeleça prioridades para realizar a correção, selecionando os problemas já estudados em sala para serem corrigidos. Várias estratégias podem ser adotadas na revisão ortográfica:
•Escrever a grafia correta embaixo ou em cima da palavra escrita incorretamente.
•Sublinhar a letra ou a palavra escrita errada e marcar na margem da linha com um código, pedindo para que seja corrigida a palavra
•Marcar apenas o código na margem da linha para a criança tentar descobrir sozinha onde errou e escrever a grafia correta.
•Escrever no final do texto, a grafia correta de palavras que o aluno está errando muito, principalmente se for o mesmo tipo de erro. Peça para ficar mais atento nessas formas
Uso de códigos para ortografia
O significado do código precisa estar bem claro para a criança. Acrescentar ao poucos novos códigos de acordo com a programação ou dificuldades dos alunos. Exemplo de códigos para correção das questões ortográficas: A – acentuação O – ortografia / - separação de palavras ( na própria palavra) M – maiúscula m – minúscula
Atividades de sistematização
- Selecione os tipos de erros mais comuns e faça exercícios de sistematização.
- Sistematize o uso de palavras que tem uma ortografia definida por regularidades. Os exercícios dirigidos podem ajudar a organizar algumas regras de ortografia
- Sempre que necessário, comente sobre a questão da variação lingüística, explicando que há muitos jeitos de falar uma palavra, mas uma única ortografia para que todos possam entender o que alguém escreveu.
- Estimule o aluno a expressar sua dúvida, a fazer perguntas, a construir hipóteses.
Mais sugestões
- Ensine o uso do dicionário, quando necessário, para resolver dúvidas ortográficas
- A fixação ortográfica de muitas palavras baseia-se muito em uma memória fotográfica. Por isso a leitura ajuda muito nessa fixação. Os exercícios e brincadeiras ajudarão, mas sozinhas não fixarão tudo.
- Quando possível, usar textos de alunos ou de outros autores. Nesse caso, ver as atividades como “Releitura com focalização” e “Ditado interativo”. Ambas as propostas estão presentes no material “Ler e Escrever” (livros azul e laranja)
- Crie Listas, Dicionários de classe, Cartazes, Painéis com palavras e regras estudadas para consulta das crianças
Bibliografia
- Cagliari, Luís Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1990, 2a ed. Lemle,
- Miriam. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática,1994, 9a ed. Franchi, Eglê, Pontes.
- Pedagogia da alfabetização: da oralidade à escrita. São Paulo, Cortez. 3a ed. Brasil. Mec. Cadernos do PNAIC, Unidade 3. Brasília, 2013
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